Eu era bem pequena quando decidi que seria mãe. Eu tinha uns 12 anos quando decidi que o parto seria normal, que amamentaria, quando visualizei a família de comercial de margarina pela primeira vez. Pedro e eu namorávamos ainda quando decidimos que teríamos 7 filhos e fizemos uma lista de nomes de 7 meninos e 7 meninas. Claro que os planos mudaram. Os filhos vieram pra nos dar aquele tapa de realidade e nos mostrar quão ingênuos éramos. Mas o que mais me surpreendeu foi o medo que veio com o nascimento de Elias.
Até então eu era uma jovem otimista que jurava que nada de ruim poderia atingi-la. Bastou Elias vir ao mundo e com ele vir à luz um medo insano. Medo de morrer, medo de perder, medo de errar. Lembro da primeira ida ao postinho pra ele tomar vacina. Eu quase tive um treco com medo do sol, da poeira, do barulho; o universo parecia um lugar perigoso demais pra um ser tão perfeito, mas tão frágil. E foi assim que há 8 anos eu perdi a paz na vida. Eu me tornei aquilo que eu mais temia: uma mãe tensa. Eu não conseguia conversar direito com as pessoas, no parquinho eu tava sempre colada na cria, nos eventos as conversas sempre ficavam pela metade. Com a vinda de Esther eu já estava mais acostumada com essa aventura que é a maternidade, mas ainda assim: toda semana pelo menos um mini-infarto. Tem sempre um doente, um caindo, um fungando, um mordendo a própria boca. Gosto de acreditar que meus medos não atrapalharam o desenvolvimento deles. Eu entendi que eles precisavam viver essa aventura, ganhar autonomia, conhecer os limites do seu próprio corpo.
Além do medo de tudo, surgiu uma urgência gigante em encontrar um lugar melhor. Em viver num lugar tranquilo, com qualidade de vida, educação de qualidade acessível pra todos, segurança, tempo com os pais. Por isso que nosso projeto de imigração está intimamente relacionado ao nascimento dos meus dois filhos. Quando engravidei de Elias bolamos um plano meio ruim, mas que nos levaria rapidamente com visto de estudo pra British Columbia. Com o visto negado, precisamos rever o plano e ver o que conseguiríamos fazer pra melhorar nossas condições de vida com o que tínhamos em mãos. Naquele momento o melhor que conseguíamos fazer era ir pra Sorocaba. Assim deixamos pra trás a cidade de Recife, minha cidade natal onde tinha família e amigos, mas onde trabalhávamos o dia inteiro, saindo de casa às 6h20 da manhã e voltando às 23h, trabalhando nos sábados e tendo uma moto como meio de transporte. Pra gente o mais importante era ter tempo pra vê-lo crescer.
Em 2016 com o nascimento de Esther, a gente percebeu que precisava de mais. Naquele momento, sem nenhum dinheiro em reserva, 2 professores formados em Didática do francês, analisamos mais uma vez o que tínhamos em mãos e bolamos um plano longo e trabalhoso, mas que nos levaria pra um lugar muito melhor: o Quebec. Esther era recém-nascida quando Pedro começou o curso de Análise e desenvolvimento de sistemas na FATEC. Os três anos e meio seguintes foram extremamente desafiadores. Não parávamos, estávamos sempre estudando, trabalhando, cuidando de criança. Isso de domingo a domingo.
Hoje quem nos vê aqui não tem ideia do quanto precisamos ralar pra chegarmos aqui. As renúncias, os sacrifícios, os dias de choro pertencem aos bastidores. Não é porque não publicamos que não existiram e existem. O Canadá foi desejado e esperado durante anos pela nossa família. Meus filhos cresceram com aquela sementinha que plantamos neles de que nossa vida estava aqui.
Os filhos são o centro das nossas vidas enquanto mães e pais. Sei que eles motivam muitos que decidem sair do conforto da terra natal. Sei também que o mesmo medo que eu sinto, muitas mães e pais sentem quanto ao futuro e a felicidade dos filhos. Qual será a melhor coisa a fazer? Na aula de hoje da Expédition 7 dias no Canadá, vou conversar com as mães e pais. Vou abrir meu coração sobre os desafios iniciais aqui, sobre como foi a adaptação na escola, com os amigos, com a língua francesa.
E hoje, no dia das mães, quero compartilhar que meu maior presente é conseguir viver a maternidade com maior leveza desde que chegamos aqui. Isso é o que desejo a todas as mães.
(Atrasado no blog, publicado no dia no Instagram)