Eu sempre gostei de escrever. Sobre tudo. Sobre nada. Pra mim mesma no meu diário. Pra amiga que eu via todo dia na escola. Pras primas que moravam em outra cidade. Pro vizinho da minha amiga que eu paquerava por carta. Pros professores de redação. Pro ENEM. Pro namorado. Pro blog Flores e Livros que alimentei com Pedro recheando das nossas peripécias na França. Recentemente comecei a escrever minhas Pages du matin, mas bem focada na visão do trabalho, como melhorar processos e afins.

Tenho feito tanto vídeos nos últimos anos que acabei me desacostumando a esse formato. É mais lento. Atinge menos pessoas. Mas tem um poder todo especial de nos ajudar a maturar as ideias, destilar os sentimentos e extrair as palavras com maior exatidão. Em tese pelo menos. Tentemos sempre.

Como tenho trabalhado pensando sempre em projetos e processos, não conseguiria simplesmente considerar escrever um simples diário de maneira aleatória. Decidi que vou publicar uma vez por semana nos próximos 3 meses um texto sobre um tema específico relacionado à nossa mudança pro Canadá. E o nome dessa “obra” que ainda nem existe será “Viagem ao Norte da Terra”. Já escrevi um primeiro texto em algum momento e mandei por e-mail, mas justamente não dei continuidade por não ter um projeto preciso. Agora vai! Inclusive aceito sugestões de tema sobre o que escrever.

Hoje vou responder a uma das perguntas que mais recebo: “Você tá mesmo feliz?” Primeiramente, preciso dizer que entendo perfeitamente essa pergunta, esse questionamento, essa desconfiança. Realmente não se deve confiar cegamente no que as pessoas postam nas redes sociais. Os recortes podem ser mentirosos; certamente não passam de uma parcela da verdade. A vida nas redes é necessariamente editada. Na verdade, toda vida reportada é editada. Desde o babado que você conta pra sua melhor amiga até o vlog em que se corta a gaguejada, o palavrão que escapou e a criança berrando no parque.

Então, sim, entendo perfeitamente a desconfiança. Preciso dizer que sou uma pessoa naturalmente otimista. Então eu vou sempre ter tendência a genuinamente me focar, tanto pra mim quanto na hora de reportar algo, em tudo o que é positivo. O copo nunca está meio vazio pra mim. Se não tiver nada nele vou pensar “olha que massa, um copo”. Então, me desculpem desde já se às vezes parecer que minha vida é perfeita. Notícia bombástica: não é. Minhas crianças fazem birra, eu e meu marido brigamos, nosso banheiro às vezes entope, o vizinho da casa colada à nossa é chato pra cacete. Mas eu não tenho nenhuma inclinação a reclamar. Detesto ter por perto pessoas reclamonas, na verdade. Então eu vou ter tendência a falar do vizinho da direita, da frente e de trás e ignorar o que chato. Não no intuito de enganar vocês, de “vender” uma imagem de perfeição, mas porque minha vida é melhor assim.

Ressalva feita, posso afirmar, convicta e sinceramente, que estou sim muito feliz. Meu marido também. E as crianças são máquinas de serem felizes sempre mesmo. Adoramos nossa casa, nosso quintal, nosso bairro. Temos uma vida social agradável e saudável. A rotina diária continua um pouco puxada, mas já está mais leve do que já foi. Inclusive esse é um ponto fundamental que preciso aprofundar: o nosso antes.

Antes do Canadá teve isolamento total em casa, crianças sem irem pra escola, meses sem ver amigos e familiares. Além de muito trabalho e muita economia pra juntar grana pra vir. Nossa casa, apesar de até então ser a melhor na qual já tínhamos morado a vida inteira, não tinha metade do conforto nem da beleza dessa que estamos atualmente. O quintal era bem rústico, na terra, com muros altos sem reboco. Era feio, cinza e não dava nem pra ver a rua. A gente apelidou essa casa de bunker (abrigo de guerra).

Então, é importante lembrar que nós humanos enxergamos o contraste. Logo, estamos vivendo uma das melhores fases das nossas vidas. Isso também coincidiu com as crianças crescendo, ficando mais independentes, dormindo, comendo e se comunicando melhor. Até mesmo a Pantoufle melhorou com a nossa vinda, então financeiramente não houve downgrade.

Resumindo: sim, estamos muito felizes. Alguns aspectos têm sido ainda melhores do que imaginávamos. A maioria, do jeitinho que previmos; apesar de otimistas, sempre nos preparamos pro pior. Eu acredito que a percepção de sucesso desse tipo de empreitada depende menos de onde você está, mas sim principalmente de seu ponto de partida e das suas expectativas.